domingo, 22 de março de 2020

isolamento


Era mais uma vez dia. Acordei ao som dos miados da gata, deve ter fome, pensei. Eu mesmo estava cheio de fome, mas o torpor dos lençóis, não me deixava levantar da cama. Deixei-me ficar a ouvir as vizinhas a conversar na rua. Anda tudo preocupado com esta doença que por aí anda. Acabei por levantar as persianas e deixar entrar o sol. Abri a porta do quarto e elas saltaram logo para cima da cama a miar. Bom dia meninas, disse eu, estão cheias de saudades ou cheias de fome, suas interesseiras!
Deixei-me ficar. Elas foram-se pôr no retângulo de luz que entrava pela janela, a lamberem-se, no seu banho matinal. Eu agarrei-me a outro retângulo, aquele que me permite espreitar a vida dos outros, ou antes a vida que os outros querem mostrar, um teatro com cenários belos, mas falsos, com personagens ocas, com tragedias escondidas. Mas fi-lo na mesma, como todas as manhas, tardes, noites.
Estava a tornar-se difícil enfrentar este confinamento. Estamos todos no mesmo barco, na verdade era um pensamento mentiroso. Cada um está no seu pequeno barco e vamos em flotilha a caminho de um destino que cada vez parece mais longe e inatingível.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Falta

Preciso do teu calor
De aquecer os ossos e a alma,
Estendido no teu abraço

Preciso dos dias longos
Dos serões apaixonados,
Perdido nos teus braços

Falta-me algo para matar esta dor
Para preencher o vazio,
Da tua ausência

É tarde
E fazes-me falta

domingo, 7 de abril de 2019

Be live

Acreditar;
Acreditar no futuro,
Sempre na mudança
Na mudança estática do dia a dia
Na mudança dos dias que aí vêm
Confiamos tantas vezes no que o futuro vai mudar, que deixamos a mudança passar ao lado
Temos de acreditar, sim, em nós mesmos.
Tenho de ser eu mesmo o agente, o reagente, o resultado final.
O caminho está à minha frente e só eu o posso percorrer